domingo, 28 de fevereiro de 2016

Breves notas soltas sobre as praxes académicas

De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, praxe é o “que se pratica habitualmente; “o que é conforme o costume”; “regra ou norma”; “conjunto de regras da sociedade”; “Execução, realização, prática”.
Por sua vez, “praxe académica” designa o “conjunto de costumes especiais e convenções, usados por estudantes de algumas universidades, baseados na hierarquia académica.”
O termo praxe surgiu apenas na segunda metade do século XIX. Veio substituir designações mais antigas como “investidas”, “caçoadas” e “troças”.
A praxe numa aceção larga é sinónimo de vida académica. Noutra aceção possível, a praxe é um ritual iniciático ou de passagem na medida em que realça o processo de maturação dos estudantes.
Há, todavia, uma aceção mais restrita de praxe – relacionada com as anteriores: o conjunto de relações e procedimentos que se devem estabelecer entre os 'caloiros' e os 'doutores’.  As acções mais visíveis da praxe estão, sem dúvida, relacionadas com os caloiros.
Durante o século XX, a praxe sofreu duas longas suspensões. Foi abolida em 1910, logo após a implantação da República. Voltou a ser reposta em 1919. Entretanto, foram criadas em 1911 as Universidades de Lisboa e do Porto. Mas a praxe continuou confinada a Coimbra.
Durante o Estado Novo, a reorganização da praxe culminou na publicação do Código da praxe académica em 1957. O código foi sofrendo alterações ao longo do tempo. Trata-se de uma extensa regulamentação, com quase 300 artigos, fixando uma hierarquia entre os estudantes. A PRAXE ACADÉMICA – sempre em letras maiúsculas – é definida logo no artigo 1.º como “o conjunto de usos e costumes tradicionalmente existentes entre os estudantes da Universidade de Coimbra e os que forem decretados pelo Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra”.
Entre 1969-1979, a praxe sofreu a sua segunda longa paragem, na sequência de um “luto académico”.
No final da década de 80 e em especial a partir dos anos 90, a praxe voltaria em força. Desta vez, deixaria de estar confinada à Universidade de Coimbra. Alastrou à maioria das instituições de ensino superior do país. Este processo de retorno da praxe coincidiu com a massificação do ensino e a criação de várias instituições privadas de ensino superior.